terça-feira, 29 de setembro de 2009

75% dos tumores de cabeça e pescoço são descobertos tarde

GABRIELA CUPANI
Folha de S.Paulo

Três em cada quatro tumores de cabeça e pescoço são descobertos em estágio avançado, quando as chances de cura são menores e os tratamentos, mais agressivos. O dado é de um estudo sobre o perfil epidemiológico desses cânceres no Estado de São Paulo, feito pelo Hospital A.C. Camargo.
Para chegar ao resultado, os autores analisaram o registro de mais de 16 mil pacientes entre os anos de 2000 e 2006, diagnosticados com tumores de lábio, cavidade oral, faringe, amígdala e glândulas salivares, entre outros. Trata-se de um dos poucos levantamentos que detalharam as prevalências de cada um dos tumores englobados no grupo considerado câncer de cabeça e pescoço.
Segundo o trabalho, 75% dos casos foram diagnosticados em estágio avançado e isso não se alterou ao longo dos anos. No mesmo período, os casos de câncer de nasofaringe tiveram o maior aumento proporcional.
Os pacientes diagnosticados eram, na maioria, homens com mais de 60 anos e baixo nível de escolaridade. "Falta conhecimento dos sintomas", afirma o cirurgião Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço e otorrinolaringologia do Hospital A.C. Camargo e um dos líderes desse trabalho.
"Nos Estados Unidos, a situação é inversa: 70% dos casos são descobertos em estágio inicial", conta o cirurgião de cabeça e pescoço Sérgio Samir Arap, do Hospital das Clínicas de São Paulo e gerente-médico do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
"A maioria desses tumores acontece nas mucosas da cavidade oral, laringe e esôfago", diz Arap. "Mas faltam profissionais capacitados para identificar esses tumores precocemente e encaminhar os casos para um serviço especializado", completa o cirurgião.
Estima-se que os cânceres de boca e orofaringe sejam os tipos mais frequentes dessa categoria, somando aproximadamente 390 mil novos casos a cada ano no Brasil. Segundo o artigo, o Brasil se destaca como um dos países com maior incidência desses tumores, devido à exposição aos fatores de risco.
Os tumores de cabeça e pescoço são relacionados a exposição excessiva ao sol (que causa a doença na pele e nos lábios), tabagismo e consumo abusivo de álcool. Estudos recentes associam o aumento de casos à infecção pelo vírus HPV, mesmo em pessoas assintomáticas.

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